Diante de justificativas tão
cretinas e cínicas, não podemos deixar de responder em tom também cretino e
cínico…
Contudo, desta vez pretendo escrever um
texto mais científico, já que, há algum tempo, quando procurei a universidade
pública para fazer o mestrado, fui informado que eu não poderia ingressar no
curso por que tinha ideias próprias e, portanto, cometia um terrível pecado
acadêmico; conforme compreendi, é proibido pensar, sendo aceito como ciência
apenas a reprodução de ideias de célebres pensadores estrangeiros. Mas
pretendo, através deste texto, provar que posso fazer uma pesquisa e, mais
importante, consigo ser um cientista sério.
Por que é um absurdo pagar pedágio
nas estradas mato-grossenses?... Eis a continuação do nosso dilema. Vejamos
bem; no ano de 2013 batemos recorde em pagamento de impostos no Brasil, R$ 1,7
trilhão; e Mato Grosso não ficou atrás, arrecadando já nos três primeiros meses
daquele ano R$ 3,6 bilhões. E, segundo Balanço Geral, emitido pelo próprio
governo do estado, no ano de 2013, os impostos pagos superaram a receita
prevista em R$ 515 milhões. Isso significa que nós mato-grossenses somos
verdadeiros atletas na arte de pagar tributo ao estado, a cada ano superando o
ano anterior, quebrando recordes, quebrando o orçamento doméstico, e se
quebrando ao meio para atingir tão graciosos números!…
Mas, se somos tão competentes em
pagar impostos, ao ponto de a arrecadação crescer em ritmo mais acelerado que o
PIB e proporcionalmente mais que a economia, por que o governo do estado está
querendo que a iniciativa privada cobre novamente por um serviço já pago
através de pedágios?... Pensei muito nisso, consultei a net, e acabei por
levantar algumas hipóteses. Vamos a elas.
Segundo um artigo que encontrei
sobre as obras da Copa em Curitiba, aquela cidade teria gasto R$ 219,7 milhões
com estádios privados, num total de gastos que chega a R$ 572 milhões,
inclusive com uma ajudinha, um mimo, à FIFA, que é tão paupérrima, de R$ 8,5
milhões: uma bagatela.
Penso que tal estado de coisas se dê
por conta da nossa grande preocupação com a prática desportiva no país, já que,
no mesmo artigo, encontra-se a informação de que dos 12 municípios sede da
Copa, entre 2010 e 2013, 9 receberam mais grana para construção de estádios do
que para a manutenção da educação pública… Seriam os novos paradigmas do século
21? Mais bola, menos letras?...
Ainda tratando da prodigalidade
estatal para com as obras da Copa, a princípio dizia-se que a iniciativa
privada arcaria com a maior parte das despesas e que o Estado entraria com uma
parte inferir dos investimentos. Porém, num país de recordistas em pagamento de
impostos, onde os tributos superam o custo de manutenção da máquina
administrativa, é claro que não seríamos sovinas num evento tão importante para
humanidade! Tanto é que, segundo dados disponíveis na rede, atualmente o Estado
está bancando cerca de 85,5% dos custos com obras referentes à Copa. E por isso
ninguém no mundo pode dizer que somos mãos-de-vaca, pois os alemães, aqueles
pães-duros, gastaram só R$ 3,6 bilhões com estádios; os sul-africanos, uns
muxibas, apenas 3,2 bilhões: ô povo mais mão fechada! Pois nós, atletas
olímpicos dos impostos, estamos gastando é R$ 8 bilhões com nossas arenas
modernas: morra de inveja, Coliseu Romano!
Enfim, a minha primeira hipótese
para a atual necessidade de se cobrar pedágio, mesmo já tendo sido pagas essas
estradas e sua manutenção, seria o fato de que, talvez, tenhamos bebido muita
cerveja e, por ventura, teríamos aberto a mão um pouco demais, já que, a
princípio, estimava-se um custo de aproximadamente R$ 20 bilhões para o evento
Copa, e hoje se fale em R$ 35 bilhões…
Porém um cientista não pode ficar na
primeira hipótese, é necessária averiguar outras possibilidades. E um dado nos
revela outra face dessa moeda multifacetada. Segundo matéria veiculada no
Folha.uol, o CREA andou apontando falhas nas obras da Copa em Cuiabá; logo, é
preciso refazê-las, e refazer significa gastar mais. Contudo, esse gastar mais
se atrela a outra questão. Segundo alguns críticos, não há transparência nas
licitações e contratações de serviços e empresas que executam as tais obras da
Copa. Até existe o contrato, mas a planilha quantitativa de serviços com preços
é como perna de cobra… Dessa forma não dá para saber se tais serviços estão ou
não superfaturados. Não que se desconfie dessa gente que tem um passado tão
ilibado, longe de nós. É só uma hipótese científica. Apesar de que, segundo
consta, em outros três estados onde o Ministério Público analisou as contas, os
custos baixaram na ordem do milhão… Que coisa, não?
Ao que parece, aqui em Mato Grosso,
o Tribunal de Contas até acompanha as obras, mas tem demonstrado estar preocupado
mesmo é com os prazos… Claro, afinal, em terra de empreiteiras e políticos tão
honestos não há o menor motivo para se duvidar de preços de asfalto, viadutos,
encanamentos, estádios, cadeiras de estádios… Mas há algo que talvez tenha
escapado à analise dos críticos. Será que não estariam os peões que trabalham
nessas obras superfaturando seus salários. Afinal, R$ 700,00 é muito alto! Essa
gente só pode estar querendo ficar rica mesmo, e tudo às custas da Santa Copa
do Mundo! Uma vergonha isso!!!
Por fim, a última hipótese para a
implantação de pedágio em Mato Grosso. Segundo um maledicente professor e
pesquisador, nossas vias públicas padecem de buracos, erosão no leito das
pistas, quedas de barreiras e, em geral, são acidentadas. Além disso, ainda fala
que é usada matéria-prima de baixa qualidade, a custos milionários (isso é
verdade, porque não somos mãos-de-vaca), e que não há obras de recuperação
nessas vias. Esse “intrigueiro” ainda diz que “Apesar de a Lei de Licitações
determinar tempo médio de vida útil de dez anos após as reforma, grande parte
das rodovias federais e estaduais volta a ficar esburacada e a oferecer perigo
aos motoristas muito antes de vencido esse prazo.”. E continua com seus
descalabros, dizendo que “O tempo de vida útil não é alcançado porque há
projetos ruins, execução errada e material de baixa qualidade comprado como se
fosse de primeira. E, o que é pior, as fraudes se multiplicam por falta de
fiscalização”. Claro está que essa hipótese é bem absurda, pois todos que viajam
pelas estradas mato-grossenses verificam de imediato a alta qualidade de nossas
pistas de rolagem: um primor, um primor!
Ainda segundo outro fofoqueiro da
internet, a Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico), que foi
criada exclusivamente para manter nossas estradas, não é aplicada
integralmente, sendo destinado apenas 25% para esse fim. Porém, nesse ponto,
sou obrigado a intervir, pois, lógico, nossos governantes, exímios
administradores dos nossos impostos, estão dando um fim bem mais útil para essa
grana: isso é claro, basta olhar ao nosso redor para vermos os belos hospitais,
as excelentes escolas, as magistrais universidades públicas e todas essas
grandiosas áreas de lazer em todas as cidades do país.
Entretanto, para desanuviarmos esse
clima de desconfiança, vamos a uma possibilidade bem mais plausível. Analisemos
uma obra da Copa que apresentou problemas três meses após sua inauguração: os
17 quilômetros duplicados da rodovia que liga Cuiabá a Chapada dos Guimarães,
onde surgiram “defeitinhos” como asfalto se desfazendo, ausência de drenagem,
uma rotatória onde não cabia um ônibus. E façamos um paralelo com o resultado
de uma vistoria feita pelo Tribunal de Contas do Estado, quando, em 27 obras de
pavimentação de rodovias, executadas entre 2006 e 2008, num trecho de 731,9
quilômetros, foram verificados 3.979 defeitos que não deveriam existir, tendo
sido gasto nessas obras algo em torno de R$ 500 milhões…
Pois bem, analisemos. Certamente a
culpa é da peonada. Eu não gosto de ser preconceituoso, mas se verificassem os
bolsos deles, certamente encontrariam ali todo o cascalho, piche, e demais
ingredientes de um bom asfalto. Além disso, esse salário exorbitante de R$
700,00 pagos a esses privilegiados que podem trabalhar e se bronzear sob um sol
que celebridades pagariam fortunas para terem tocando suas peles, mais o que é
gasto em comida, sim, comida! Alimento que enche suas panças, inclusive com
coliformes fecais variadíssimos. Tudo isso é que leva as nossas estradas a
terem tão baixa qualidade, pois nossos engenheiros, nossos empreiteiros, nossos
contratantes públicos são gente da maior confiança e equidade.
Apesar de que um mexeriqueiro
publicou um livro sobre a evolução patrimonial de parlamentares, no qual ele
diz que teve dificuldade para escolher os seus protagonistas, tendo em vista a
incrível habilidade que nossos políticos têm para ficar ricos assim que
ingressam na vida pública. Segundo o tal autor, ele escolheu aqueles que
tiveram seu patrimônio aumentado em, no mínimo, R$ 1 milhão no primeiro
mandato, só para fazer a peneiragem; o que não ajudou muito, pois ao que
parece, os caras são empreendedores sagazes. Então o tal escritor foi depurando
sua lista, até chegar no top 10 e, pasmem!, Mato Grosso tem um representante
nessa lista!… ou são mais?... Não importa, um é garantido. Um orgulho
mato-grossense! Mas por que mesmo estou falando desses hábeis construtores de
fortuna?... Deixa pra lá.
Por que não precisamos de pedágios
em Mato Grosso? Ora, a resposta é bem simples. Certamente continuaremos batendo
recordes de arrecadação e sempre teremos superávit; a Copa vai passar e tudo
que precisaremos é só refazer as obras que vão dar algum problema (darmmm);
quanto à falta de transparência nas negociatas das licitações, é só colocar os
nossos políticos da lista top 10, pois são grandes administradores de fortunas;
e sobre a má qualidade das pistas, ora, é só vigiar os operários, economizar na
comida deles e rever esse salário aí de R$ 700,00 que, segundo uma antiga
notícia do jornal nacional, os coloca entre uma seleta elite econômica. E
pronto, está solucionado o problema, como num passe de mágica.
Ah, e uma última nota, sobre os “defeitinhos”
na estrada que liga Cuiabá a Chapada. Segundo consta, ninguém reclamou de
acidentes graves, já que todos que procuramos para perguntar sobre as condições
daquela via se mantiverem em silêncio, agindo até com certa empáfia em seus
confortáveis leitos hospitalares, sob a alegação de estarem em coma. Até parece
que uma capotadinha, seguida de uma quedazinha numa ribanceira faz tudo
isso!...
JC.
Arcanjo
27/02/2014
Fontes
na internet
Matéria
sobre arrecadação de impostos no Brasil:
Texto sobre arrecadação de impostos em
Mato Grosso
Texto sobre gastos da Copa em Curitiva
Texto sobre gastos da Copa no Brasil
Matéria sobre falhas nas obras da Copa em
Cuiabá
Matéria que denuncia a falta de
transparência nas negociadas das obras da Copa http://centroburnier.com.br/wordpress/?p=6512
Matéria sobre
nossos gastos absurdos com rodovias de péssima qualidade
Reportagem sobre
publicação de livro que trata da evolução patrimonial de parlamentares
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