quarta-feira, 16 de abril de 2014

Texto 1 - Pedágio - Mais um pedágio em Mato Grosso


Hoje eu ia trabalhar… Eu tenho que trabalhar! Mas recebi uma notícia que realmente não me permitiu pensar em mais nada, e eu resolvi deixar de lado as obrigações do ofício e fazer este texto. Isto aqui pode ser chamado de qualquer coisa – desabafo, denúncia, desespero, ato raivoso –, enfim, chame do que quiser, mas ao menos leia.
            Acabo de saber que a Odebrecht arrematou a concessão da BR-163, o que significa que mais essa via pública será doada a empresários para que esses lucrem com um serviço público que já foi pago pelo contribuinte. Inclusive, antes de fechar o contrato com a empresa privada, o governo, através do Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes – DNIT, está duplicando e restaurando o asfalto para entregá-lo em perfeitas condições, para que a Odebrecht tenha apenas o trabalho de se achegar e começar a rapinagem. Talvez isso esteja acontecendo por conta do que sucedeu na MT- 130, que foi entregue à empresa Morro da Mesa, a qual se comprometeu a duplicar a pista e construir acostamento antes de começar a cobrar o pedágio, mas apenas recebeu a concessão já começou a arrancar o couro de quem trafega por aquela via, a qual é composta de asfalto de péssima qualidade, com apenas pistas simples, sem duplicação ou acostamento. É claro que eu fiz duas denúncias ao Ministério Público Estadual, mas acabei descobrindo que até deputado estadual estava tendo dificuldade em acessar o contrato público celebrado entre a Morro da Mesa e o governo, logo, não seria a denúncia de um único cidadão que iria resolver a coisa.
            Mas agora o negócio está mais sério, pois se a maracutaia da MT- 130 foi o experimento usado para verificar a possibilidade de privatizar as principais vias de transporte do estado, esse teste demonstrou ser possível tirar um pouco mais do mato-grossense, o qual já paga uma carga tributária escorchante. Por exemplo, o Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores- IPVA, que além de ser destinado à manutenção de outros serviços públicos, deveria também servir para a manutenção das estradas, é elevadíssimo, como demonstra uma comparação feito por um blogueiro, que diz que nos EUA o valor do imposto correspondente ao IPVA, pago em um veículo de valor médio de R$ 31.000,00 é equivalente a 3% do valor do salário mínimo, enquanto esse montante, no Brasil, sobe para mais de 200% do valor do salário mínimo, o que equivale a pouco mais de dois salários. Além disso, o Seguro Obrigatório- DPVAT – é de pagamento obrigatório, portanto, imposto, a qualquer um que tenha interesse em dirigir um veículo automotor em via pública; e ainda tem o Licenciamento, que é uma taxa cobrada anualmente pelo DETRAN, para que o proprietário possa ter seu documento-  DUT- Documento Único de Trânsito, e também o direito de transitar com seu veículo, ou seja, mais um imposto.
            E não adianta o governador do estado vir justificar a privatização, sob alegação de que o estado precisa arrecadar mais e que por isso não consegue fazer a devida manutenção das vias públicas, porque, segundo dados recentes, quebramos outro recorde de arrecadação de tributos; e mais, o Brasil está entre os trinta países que mais arrecadam impostos no mundo e, claro, nosso país é o que, entre esses mesmos trinta países, tem o pior desempenho em retorno de serviços públicos à população.
            E se o leitor é desses que diz que esse tipo de coisa não lhe diz respeito, por não afetar sua vida, saiba que todo o custo acrescido às mercadorias, por conta do preço agregado aos transportes, é repassado ao consumidor; sempre que o governo arrecada mais, sem ter que se responsabilizar por sua função, como a garantida de direitos básicos, esse dinheiro simplesmente desaparece e quem paga a conta social é fatalmente a sociedade; e toda vez que nossos gestores públicos abusam do seu poder impondo esse tipo de absurdo e a população se cala, tudo o que se pode esperar da gestão pública é que essa promova novos absurdos.

            Portanto, trocando em miúdos, estamos diante de mais uma afronta à cidadania. Duvido que a Roma de Calígula, ou a França de Luís XIV tratasse sua população com tanto despotismo, pilantragem, descaso e crueldade. Por isso, encontrar uma solução a essa situação é de extrema necessidade. A princípio eu proporia que os usuários das vias públicas simplesmente não pagassem essa pirataria das nossas estradas e, caso as pessoas não quisessem passar por esse desconforto, então ao menos sabotem essa porcaria: paguem com notas altas de cinquenta ou cem reais e exijam celeridade na devolução do troco. Façam isso enquanto se organizam para cobrar do Estado que cumpra a Constituição Federal, a qual garante o direito de ir e vir e proíbe o uso de serviços públicos, por particulares, contra os interesses públicos e com fins de enriquecimento ilícito. É nosso direito utilizar as vias públicas e nosso dever cobrar dos nossos governantes que usem ao menos uma parte dos impostos que pagamos, aquele restinho de dinheiro que não vai parar em paraísos fiscais, para garantir a manutenção dessas vias, que são públicas, portanto, para o povo, e não para um bando de corsários disfarçados de empresários.

 Júnio Cézar Arcanjo Dias.

27/11/2013.


           
Todos os dados apresentados neste texto foram tirados da internet:

Notícia sobre a privatização da BR- 163:

Sobre o valor do IPVA no Brasil, em comparação com os EUA:   

Sobre o Licenciamento e Seguro obrigatório:

Sobre a arrecadação de impostos e a prestação de serviços públicos no Brasil?


Quanto a Calígula e Luís XIV


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