Hoje eu ia trabalhar… Eu tenho que
trabalhar! Mas recebi uma notícia que realmente não me permitiu pensar em mais
nada, e eu resolvi deixar de lado as obrigações do ofício e fazer este texto.
Isto aqui pode ser chamado de qualquer coisa – desabafo, denúncia, desespero,
ato raivoso –, enfim, chame do que quiser, mas ao menos leia.
Acabo de saber que a Odebrecht
arrematou a concessão da BR-163, o que significa que mais essa via pública será
doada a empresários para que esses lucrem com um serviço público que já foi
pago pelo contribuinte. Inclusive, antes de fechar o contrato com a empresa
privada, o governo, através do Departamento Nacional de Infraestrutura e
Transportes – DNIT, está duplicando e restaurando o asfalto para entregá-lo em
perfeitas condições, para que a Odebrecht tenha apenas o trabalho de se achegar
e começar a rapinagem. Talvez isso esteja acontecendo por conta do que sucedeu
na MT- 130, que foi entregue à empresa Morro da Mesa, a qual se comprometeu a
duplicar a pista e construir acostamento antes de começar a cobrar o pedágio,
mas apenas recebeu a concessão já começou a arrancar o couro de quem trafega
por aquela via, a qual é composta de asfalto de péssima qualidade, com apenas
pistas simples, sem duplicação ou acostamento. É claro que eu fiz duas
denúncias ao Ministério Público Estadual, mas acabei descobrindo que até
deputado estadual estava tendo dificuldade em acessar o contrato público
celebrado entre a Morro da Mesa e o governo, logo, não seria a denúncia de um
único cidadão que iria resolver a coisa.
Mas agora o negócio está mais sério,
pois se a maracutaia da MT- 130 foi o experimento usado para verificar a
possibilidade de privatizar as principais vias de transporte do estado, esse
teste demonstrou ser possível tirar um pouco mais do mato-grossense, o qual já
paga uma carga tributária escorchante. Por exemplo, o Imposto sobre a
Propriedade de Veículos Automotores- IPVA, que além de ser destinado à
manutenção de outros serviços públicos, deveria também servir para a manutenção
das estradas, é elevadíssimo, como demonstra uma comparação feito por um
blogueiro, que diz que nos EUA o valor do imposto correspondente ao IPVA, pago
em um veículo de valor médio de R$ 31.000,00 é equivalente a 3% do valor do
salário mínimo, enquanto esse montante, no Brasil, sobe para mais de 200% do
valor do salário mínimo, o que equivale a pouco mais de dois salários. Além
disso, o Seguro Obrigatório-
DPVAT – é de pagamento obrigatório, portanto, imposto, a qualquer um que tenha
interesse em dirigir um veículo automotor em via pública; e ainda tem o Licenciamento,
que é uma taxa cobrada anualmente pelo DETRAN, para que o proprietário possa
ter seu documento- DUT- Documento Único
de Trânsito, e também o direito de transitar com seu veículo, ou seja, mais um
imposto.
E não adianta o governador do estado
vir justificar a privatização, sob alegação de que o estado precisa arrecadar
mais e que por isso não consegue fazer a devida manutenção das vias públicas,
porque, segundo dados recentes, quebramos outro recorde de arrecadação de
tributos; e mais, o Brasil está entre os trinta países que mais arrecadam
impostos no mundo e, claro, nosso país é o que, entre esses mesmos trinta
países, tem o pior desempenho em retorno de serviços públicos à população.
E se o leitor é desses que diz que
esse tipo de coisa não lhe diz respeito, por não afetar sua vida, saiba que
todo o custo acrescido às mercadorias, por conta do preço agregado aos
transportes, é repassado ao consumidor; sempre que o governo arrecada mais, sem
ter que se responsabilizar por sua função, como a garantida de direitos
básicos, esse dinheiro simplesmente desaparece e quem paga a conta social é
fatalmente a sociedade; e toda vez que nossos gestores públicos abusam do seu
poder impondo esse tipo de absurdo e a população se cala, tudo o que se pode
esperar da gestão pública é que essa promova novos absurdos.
Portanto, trocando em miúdos,
estamos diante de mais uma afronta à cidadania. Duvido que a Roma de Calígula,
ou a França de Luís XIV tratasse sua população com tanto despotismo,
pilantragem, descaso e crueldade. Por isso, encontrar uma solução a essa
situação é de extrema necessidade. A princípio eu proporia que os usuários das
vias públicas simplesmente não pagassem essa pirataria das nossas estradas e,
caso as pessoas não quisessem passar por esse desconforto, então ao menos
sabotem essa porcaria: paguem com notas altas de cinquenta ou cem reais e
exijam celeridade na devolução do troco. Façam isso enquanto se organizam para
cobrar do Estado que cumpra a Constituição Federal, a qual garante o direito de
ir e vir e proíbe o uso de serviços públicos, por particulares, contra os
interesses públicos e com fins de enriquecimento ilícito. É nosso direito
utilizar as vias públicas e nosso dever cobrar dos nossos governantes que usem
ao menos uma parte dos impostos que pagamos, aquele restinho de dinheiro que
não vai parar em paraísos fiscais, para garantir a manutenção dessas vias, que
são públicas, portanto, para o povo, e não para um bando de corsários
disfarçados de empresários.
Júnio Cézar Arcanjo Dias.
27/11/2013.
Todos
os dados apresentados neste texto foram tirados da internet:
Notícia
sobre a privatização da BR- 163:
Sobre
o valor do IPVA no Brasil, em comparação com os EUA:
Sobre
o Licenciamento e Seguro obrigatório:
Sobre a arrecadação de impostos
e a prestação de serviços públicos no Brasil?
Quanto
a Calígula e Luís XIV
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