Moderna pirataria
Segundo a
Wikipédia, “Um pirata é um marginal que, de forma autônoma ou organizado
em grupos, cruza os mares
só com o fito de promover saques e pilhagem a navios e a cidades para
obter riquezas e poder.” Essa emblemática figura é citada ainda nos tempos
Homéricos. E, segundo alguns, entre os mais famosos piratas de que se tem
notícias, figura os Irmãos Barba-Ruiva, Sir Francis Drake, Calico Jack, Henry
Morgan, entre tantos outros.
Muitos desses
sujeitos chegaram a receber títulos de nobreza, devido aos bons serviços
prestados a reis e rainhas, diga-se de passagem, pilhagens que resultavam em
assassinatos em massa e no roubo de toneladas de pedras e metais preciosos.
Na época em que essas figuras quase mitológicas atuavam,
segundo consta, entre os séculos XVI e XVIII, seu ofício se dava a partir da
armação de navios, nos quais se lançavam ao mar para interceptar outros navios,
ou para aportar em cidades ou vilarejos costeiros e então fazer o saque.
Agora eu proponho o seguinte exercício de imaginação ao
leitor: e se em vez de armar navios e sair em busca de um e outro para
assaltar, os piratas resolvessem simplesmente tomar para si todas as rotas
oceânicas e marítimas, instalassem postos de recebimento e obrigassem cada
navio que por ali passasse a pagar uma determinada quantia?...
Pois bem. Fiz essa inocente brincadeira sobre os piratas
de séculos passados unicamente para informar ao leitor que, no presente, eles
não só estão mais vivos do que nunca, como todos têm títulos de nobreza e, por
mais absurdo que pareça, tiveram essa brilhante ideia de tomar para si as rotas
pelas quais as pessoas trafegam.
Ao menos em Mato Grosso isso está acontecendo de forma
progressiva e em ritmo acelerado. A primeira via a ser pirateada foi a rodovia
MT 130, que liga Primavera do Leste a Rondonópolis; em seguida foi a vez do
trecho que liga Primavera do Leste a Paranatinga; concomitante com esse, também
resolveram piratear a BR 163, e as rodovias MT 010, MT 249, MT 170 e, quanto à
MT 251, discute-se se serão três, quatro ou cinco pontos de pilhagem.
Tendo em vista os valores pagos em impostos sobre
veículos automotores, IPVA, Licenciamento e seguro obrigatório, entendendo-se
que são todos impostos, já que não existe a possibilidade de não querer
pagá-los e mesmo assim continuar usando os veículos que compramos, por sinal
bem caros, enfim, mesmo pagando impostos tão altos, nossos governantes e homens
de negócios (os modernos piratas), insistem que tal rapinagem é não só
necessária, como também benéfica.
Fico pensando no que achariam a esse respeito senhores
como os já citados Barba-Ruiva, ou Sir Francis Drake… Certamente ficariam
corados, morrendo de vergonha por não terem tido uma tão eficiente ideia para
rapinar as pessoas, e ainda por cima serem lembrados através dos tempos como cruéis
e inescrupulosos assaltantes dos sete mares. Penso até que, diante de sua
pueril ideia de armar um navio, navegar por semanas sob o risco de naufragar em
uma tempestade, ou mesmo de se deparar com uma armada mais eficiente, eles se
sentissem ingênuos e apequenados. Talvez um espírito de arrependimento os
tomasse e esses homens, honestamente compungidos de sua insignificante atuação
profissional, passassem a se dedicar a algum ofício religioso. Afinal de contas, pirataria, singrando
os mares, é coisa de amador. Pilhagem eficiente se faz é com boa campanha
publicitária, com pesquisas estatísticas fraudulentas, compra de horário nobre
na televisão, com algum por fora para financiar campanhas eleitorais e viagens
de lazer de homens públicos e, claro, com a passiva e conivente participação de
um povo que se exalta diante de um pênalti não marcado, mas se cala, enfia a
mão no bolso, e tenta facilitar a vida da moça da praça de pedágio,
empenhando-se em pagar com dinheiro trocado e corretamente contabilizado para
aquele fim.
JC. Arcanjo
25/02/2014
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