quarta-feira, 16 de abril de 2014

Texto 2 - Pedágio - Moderna pirataria

Moderna pirataria

Segundo a Wikipédia, “Um pirata é um marginal que, de forma autônoma ou organizado em grupos, cruza os mares só com o fito de promover saques e pilhagem a navios e a cidades para obter riquezas e poder.” Essa emblemática figura é citada ainda nos tempos Homéricos. E, segundo alguns, entre os mais famosos piratas de que se tem notícias, figura os Irmãos Barba-Ruiva, Sir Francis Drake, Calico Jack, Henry Morgan, entre tantos outros.
             Muitos desses sujeitos chegaram a receber títulos de nobreza, devido aos bons serviços prestados a reis e rainhas, diga-se de passagem, pilhagens que resultavam em assassinatos em massa e no roubo de toneladas de pedras e metais preciosos.
            Na época em que essas figuras quase mitológicas atuavam, segundo consta, entre os séculos XVI e XVIII, seu ofício se dava a partir da armação de navios, nos quais se lançavam ao mar para interceptar outros navios, ou para aportar em cidades ou vilarejos costeiros e então fazer o saque.
            Agora eu proponho o seguinte exercício de imaginação ao leitor: e se em vez de armar navios e sair em busca de um e outro para assaltar, os piratas resolvessem simplesmente tomar para si todas as rotas oceânicas e marítimas, instalassem postos de recebimento e obrigassem cada navio que por ali passasse a pagar uma determinada quantia?...
            Pois bem. Fiz essa inocente brincadeira sobre os piratas de séculos passados unicamente para informar ao leitor que, no presente, eles não só estão mais vivos do que nunca, como todos têm títulos de nobreza e, por mais absurdo que pareça, tiveram essa brilhante ideia de tomar para si as rotas pelas quais as pessoas trafegam.
            Ao menos em Mato Grosso isso está acontecendo de forma progressiva e em ritmo acelerado. A primeira via a ser pirateada foi a rodovia MT 130, que liga Primavera do Leste a Rondonópolis; em seguida foi a vez do trecho que liga Primavera do Leste a Paranatinga; concomitante com esse, também resolveram piratear a BR 163, e as rodovias MT 010, MT 249, MT 170 e, quanto à MT 251, discute-se se serão três, quatro ou cinco pontos de pilhagem.
            Tendo em vista os valores pagos em impostos sobre veículos automotores, IPVA, Licenciamento e seguro obrigatório, entendendo-se que são todos impostos, já que não existe a possibilidade de não querer pagá-los e mesmo assim continuar usando os veículos que compramos, por sinal bem caros, enfim, mesmo pagando impostos tão altos, nossos governantes e homens de negócios (os modernos piratas), insistem que tal rapinagem é não só necessária, como também benéfica.
            Fico pensando no que achariam a esse respeito senhores como os já citados Barba-Ruiva, ou Sir Francis Drake… Certamente ficariam corados, morrendo de vergonha por não terem tido uma tão eficiente ideia para rapinar as pessoas, e ainda por cima serem lembrados através dos tempos como cruéis e inescrupulosos assaltantes dos sete mares. Penso até que, diante de sua pueril ideia de armar um navio, navegar por semanas sob o risco de naufragar em uma tempestade, ou mesmo de se deparar com uma armada mais eficiente, eles se sentissem ingênuos e apequenados. Talvez um espírito de arrependimento os tomasse e esses homens, honestamente compungidos de sua insignificante atuação profissional, passassem a se dedicar a algum ofício religioso.        Afinal de contas, pirataria, singrando os mares, é coisa de amador. Pilhagem eficiente se faz é com boa campanha publicitária, com pesquisas estatísticas fraudulentas, compra de horário nobre na televisão, com algum por fora para financiar campanhas eleitorais e viagens de lazer de homens públicos e, claro, com a passiva e conivente participação de um povo que se exalta diante de um pênalti não marcado, mas se cala, enfia a mão no bolso, e tenta facilitar a vida da moça da praça de pedágio, empenhando-se em pagar com dinheiro trocado e corretamente contabilizado para aquele fim.

JC. Arcanjo
25/02/2014


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